domingo, 1 de novembro de 2009

As folhas D.Carlos I (Mouchon) - Parte II

Carlos George, no seu artigo "Os selos da Companhia de Moçambique, tipo Elefantes" escrevia:

"Os selos, que nós só conhecemos em folhas de 28 selos, eram impressos em folhas grandes que levavam quatro "quartos" de 28 selos cada um."

É razoável pensar que, sendo os selos Elefantes imprimidos e perfurados na Casa da Moeda, assim como os D.Carlos I (Mouchon) analisados na primeira parte destas minhas reflexões, tenham sido utilizadas as mesmas máquinas de perfurar. Por esta razão pode-se dizer que a afirmação de Carlos George é só parcialmente verdadeira, pois os selos Elefantes com denteado 12½ e 13½  foram picotados com um perfurador de grade, e os com denteado 11½ com um perfurador de pente. Este último é o único usado para perfurar os selos imprimidos em folhas grandes com quatro "quartos". Não tenho porém suficientes peças - nem encontrei muitas imagens na net - dos selos tipo Elefantes por analisar e poder confirmar, do mesmo modo como foi feito com os selos de Lourenço Marques, se foram imprimidos em quatro painéis  de 28 selos cuja característica principal é de ter 3 margens perfuradas. É possível que não existam tendo em conta que os selos Elefantes com denteado 11½ foram emitidos somente a partir de 1902, altura em que provavelmente já se utilizava (ou voltou a ser utilizado) um outro tipo de perfurador.

As folhas imprimidas em quatro "quartos" identificadas nos selos de Lourenço Marques e outros distritos foram distribuídas em folhas de 28 selos com as características que se podem ler no desenho a seguir onde os pontos grossos representam os furos "de chamada" (existem também folhas do mesmo tipo mas sem furos de "chamada", argumento a ser tratado numa outra altura).



Folhas tipos 1a e 1b D.Carlos I (Mouchon de L.Marques)



Folha tipo 2a D.Carlos I (Mouchon) de Macau (foto de um leilão P.Dias)


A impressão em folhas de quatro "quartos" começou antes da emissão D.Carlos I (Mouchon). Lendo com mais atenção o catálogo Simões Ferreira é possível estabelecer o ano em que se deu inicio à impressão em folhas grandes coincidindo com a utilização do perfurador de pente 11½. Os primeiros selos de Portugal denteados 11½ são de 1886, mais exactamente os com legenda "JORNAES", para os quais o autor do catálogo especifica que tais selos foram imprimidos em folhas de 150 (15x10) a partir desse ano. A seguir todos os selos que apresentam o picotado 11½ são sempre associados à impressão em folhas de 150 selos :D.Luis I, de frente; D. Luis I, de frente, novos valores; D. Carlos I (Neto); D.Carlos I (Mouchon).
Não é possível porém para mim confirmar se estes selos foram sempre imprimidos em folhas grandes de 150 selos ou se foram imprimidos em 4 "quartos" para obter 4 folhas de 28 selos, assim como foi feito com os selos Mouchon das colónias ou, segundo C.George, com os selos Elefantes da Companhia de Moçambique. Certamente já entre 1893 e 1898, ano de emissão dos primeiros selos Mouchon para as colónias, que substituíram os selos Neto, já se imprimiam folhas do tipo 2, pois conhecem-se folhas deste tipo dos selos, por exemplo, de Lourenço Marques.


Folhas tipo 2a e 2b D.Carlos (Neto) de L.Marques

Pode-se concluir que:
1. a impressão em folhas grandes dos selos das colónias (não necessariamente ao mesmo tempo e em folhas dos 2 tipos para todas as colónias) separados em quatro "quartos" deve ter começado já durante o período de validade dos selos D.Carlos I (Neto), entre 1893 e 1898, e continuado com a impressão dos selos D.Carlos I (Mouchon) de 1898 para diante, com e sem legenda nas margens. 
2. não houve para as colónias a impressão em folhas grandes de 150 selos como aconteceu com os selos de Portugal.

Mas no caso dos selos da Companhia de Moçambique, foram impressos em folhas grandes de quatro "quartos" ou meias folhas de dois "quartos"?

A seguir à frase já transcrita, Carlos George escreve:

"Mas havia também meias folhas, de dois "quartos" e é minha suposição que estes selos da Companhia de Moçambique eram impressos em meias folhas ..."

A suposição de Carlos George encontra confirmação num outro tipo de perfurador utilizado para picotar as folhas dos selos D.Carlos I (Mouchon) (analise sempre limitada por enquanto às folhas que apresentam os furos "de chamada"):



 
Folhas do tipo 3a e 3b D.Carlos I (Mouchon) de Lourenço Marques

As folhas tipo 3b foram perfuradas aparentemente com um perfurador diferente apresentando o pente com uma orientação invertida. Na realidade trata-se do mesmo perfurador com o qual se perfuraram as folhas colocada direitas ou viradas de 180°. A ausência de perfuração na margem oposta à com os furos "de chamada" é indicador que o comprimento do pente era limitado a 7 selos ou seja que não havia, como no caso das folhas tipo 1 e 2, outros "quartos" contíguos verticalmente. A presença da perfuração nas margens laterais, assim como demonstrado para as folhas imprimidas em quatro "quartos", demonstra pelo contrário a impressão de painéis contíguos horizontalmente.

Consequentemente pode-se afirmar que:

1. ou a impressão era feita imprimindo apenas 2 "quartos" em meias folhas grandes, a seguir perfurados colocando as meias folhas no perfurador, umas vezes direitas e outras vezes viradas de 180°, e sucessivamente guilhotinadas para obter as folhas de 28 selos.

2. ou a impressão era feita em folhas grandes de 4 "quartos", guilhotinadas em meias folhas de 2 "quartos" e finalmente perfuradas colocando uma das duas metades de modo direito no perfurador e a segunda invertida.

3. ou impressão era feita em folhas grandes de 4 "quartos" e perfuradas antes de ser guilhotinadas. A perfuração era feita em dois «quartos» e, depois de ter virado as folhas, nos outros 2 «quartos». Provavelmente é a hipótese mais plausível sendo neste caso obrigatório e não casual virar as folhas de 180°. (acrescentado em 10/11/2009)

Também os selos D.Carlos I (Neto) foram imprimidos em folhas tipo 3 colocando assim o inicio do uso do relativo perfurador entre 1893 e 1898 e um sucessivo uso até pelo menos 1910, ano de impressão dos selos D. Manuel I.


Folha tipo 3a D.Carlos I (Neto) de L.Marques (foto de um leilão P.Dias)


Folha tipo 3a D.Manuel I de Moçambique

E por fim, demonstrando quanto escreveu C.George, a Companhia de Moçambique emitiu os selos Elefantes denteados 11½ a partir de 1902 imprimidos em folhas tipo 3.


Folha tipo 3b Elefantes da Companhia de Moçambique (foto de um leilão P.Dias)

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