quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sobrecarga antonina de Inhambane

Portaria 164 de 28 de Junho 1895
"Tendo sido autorizado por Sua Excelência o Conselheiro Comissário Régio, uma sobrecarga nos selos postais, em virtude da proposta da comissão de festas de Santo António, em Moçambique, que assim pretende comemorar o Glorioso Thaumaturgo portuguez, e havendo-se-me comunicado que em Lourenço Marques a emissão dessa sobrecarga estava já realizada:
No uso da faculdade que me confere o decreto provincial nr.5 de 19 de Janeiro último e dos telegramas do mesmo Ex.mo Senhor de 18 e 25 do corrente mês que me autorizam a regular a referida emissão, hei por conveniente determinar o seguinte :
1º - A sobrecarga nos selos postais desta província autorizada por Sua Excelência o Conselheiro Comissário Régio, para comemorar o Centenário de Santo António, será a tinta vermelha nos selos de 5 reis e a tinta preta nos das restantes taxas, e constará da seguinte legenda impressa no sentido diagonal da esquerda para a direita e de baixo para cima "1195 CENTENÁRIO ANTONINO 1895".
2º - A sobrecarga a que esta portaria se refere será feita nos selos da emissão anterior à actual e até à importância de reis 21.000$000.
3º - Os selos com a sobrecarga comemorativa de que trata o número anterior, serão adoptados para a franquia postal unicamente nos distritos de Moçambique, Zambézia e Inhambane e durante os meses de Julho e Agosto, não sendo permitido durante esse período e nos referidos distritos, a franquia postal com selos d’outras emissões ou sobrecargas.
4º - No dia 1º de Setembro próximo futuro cessará a franquia postal com os selos da sobrecarga de que trata esta portaria, e restabelecida a franquia postal anterior.
As autoridades e mais pessoas a quem o conhecimento d’esta competir assim o tenham entendido e cumpram."

Assim como evidenciado por Carlos Kullberg no artigo «Sobrecargas antoninas de Moçambique», a partir do qual transcrevi a portaria, há umas evidentes contradições entre esta e as sobrecargas antoninas de Inhambane. Aparentemente os selos previstos para circularem neste distrito tinham que ser unicamente os com sobrecarga imprimida diagonalmente cuja circulação estava autorizada unicamente nos distritos, além de Inhambane, de Moçambique e Zambézia, não havendo qualquer referência a uma anterior emissão se não à de Lourenço Marques ("... havendo-se-me comunicado que em Lourenço Marques a emissão dessa sobrecarga estava já realizada ...).

Terá a comunicação erradamente omitido que já estava realizada também a sobrecarga de Inhambane? É um facto que, ao contrário do disposto pela portaria, também selos da série em circulação (D.Carlos I - Neto) foram objecto da sobrecarga assim como aconteceu com a sobrecarga de Lourenço Marques, e que a composição gráfica das sobrecargas de Lourenço Marques e de Inhambane é substancialmente igual, o que deixa pensar que possam ter sido aprontadas ao mesmo tempo.



Qualquer que seja o estatuto destas sobrecargas (autorizadas ou não), é notória a existência de uma sobrecarga de Inhambane diferente e, portanto supostamente falsa. É fácil de identificar observando a distância entre "Inhambane" e "MDCCCXCV", e não só.
Confrontando, por exemplo, as sobrecarga destes dois selos:




1 - distância entre a base de "Inhambane" e o topo de "MDCCCXCV": 1,5 mm (sobrecarga genuina) e cerca de 2,5 mm (sobrecarga falsa).
2 - altura geral da sobrecarga: 21 mm (genuina) e 22 mm (falsa)
3 - distância entre o serife do S e o vertice do A de S. ANTONIO levemente maior na sobrecarga falsa (é o ponto que está mais afastado do S)
4 - a recta tangente ao "C" de "CENTENARIO" corta o "S" de S. ANTONIO" mais centralmente de quanto o faça na sobrecarga falsa.
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A sobrecarga de Inhambane, assim como as de Lourenço Marques e Moçambique é tipográfica. Para a sobrecarga de Moçambique recorreram a diferentes composições e fases de impressão para sobrecarregar os 28 selos da folha (ver artigo de Carlos Kullberg). Não sei qual foi a razão mas deve ser ou por não haver possibilidade de compor uma chapa das dimensões da folha ou por não ter um número suficiente de caracteres tipográfico para compor os 28 clichés duma só vez.

Terá acontecido o mesmo com as sobrecargas de Inhambane e Lourenço Marques?

O amigo Nuno ("filata" no fórum do http://www.selos-postais.com/) teve a gentileza de me enviar a imagem de uma magnifica peça da sua colecção: uma folha quase inteira da taxa de 300 r. de Inhambane com a sobrecarga do centenário. 



Possivelmente uma tira de 4 selos bordo inferior, peça igualmente da colecção do Nuno, é a parte que falta para completar a folha de 28 selos.



O conjunto das sobrecargas do bloco superior de 16 selos da folha parece estar  levemente desalinhado com o bloco inferior de 8 (e portanto de 12 se a folha estivesse completa), como é de esperar no caso de impressão em duas fase (16+12). A distância vertical entre as sobrecargas, porém, é sempre igual, (régua não em escala), o que pelo contrário faz pensar numa única fase de impressão.


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