quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Bilhetes Postais manipulados

Não é raro encontrar no mercado filatélico bilhetes postais antigos com a franquia adicional que se descolou ou foi retirada. Geralmente reconhecem-se pelas marcas parciais, faltando a parte que obliterava o selo, e pela insuficiência do valor do postal para pagar o porte correspondente. Conhecendo a data de expedição e o valor da franquia em falta é até possível identificar o selo ou os selos que estavam originariamente colados ao postal.

Este bilhete postal, por exemplo, podia ter sido uma boa peça se o coleccionador tivesse dado mais importância ao postal no seu todo e não apenas ao selo (se foi ele que tirou) e à etiqueta de registo que tentou de retirar.


Bilhete postal da taxa de 10 réis registado expedido de Lourenço Marques (5 MAR 10) para Port Elizabeth (8 MAR 10). Retirada (em baixo à esquerda) a franquia adicional de 50 r. correspondente ao prémio de registo. Marca de trânsito de Johannesburg (6 MAR 10), de transporte ferroviário MIDLAND T.P.O.5 (8 MAR 10) e de chegada REGISTERED-PORT ELIZABETH (8 MAR 10)

Peças deste tipo estão sujeitas a uma forte desvalorização, o que é uma boa ocasião para os falsários poderem adquirir por poucos euros e transforma-las em peças extraordinárias ... por vezes também exagerando.
Refiro-me em particular a um bilhete postal objecto de um artigo de Steve Washburne que pode ser lido ao endereço http://home.att.net/~s.s.washburne/UseAbroad.htm  (obrigado Fernando pela dica).



Washburne  estrutura o seu artigo de um modo um pouco esquisito. Bem sabendo que o postal foi manipulado, só no fim é que fornece os detalhes determinantes ("LORENÇO" sem "U" e tinta preta em vez de azul) descrevendo inicialmente umas muito improváveis explicações do que podia ter acontecido. Talvez esteja a gozar com os que se limitam a apreciar a espectacularidade das peças sem se preocupar com os detalhes da mesma.
Apesar dos erros grosseiros do falsário, indicados por Washburne, serem mais do que suficientes para reconhecer a manipulação, vale a pena observar outros detalhes do carimbo falso, por ser útil na analise de outras peças parecidas.


"R" diferentes, sobretudo o primeiro (marca original à esquerda)


Os circulos vermelhos tem o mesmo diâmetro (328 pixel); o falsário errou a curva no ponto assinalado pela seta


Não se explica porque nestas áreas não haja qualquer vestígio de tinta mesmo que, como na marca original, a cor não seja muito intensa


Não é uma prova definitiva, mas é habitual que haja uma interrupção das linhas do carimbo ao passar do selo ao suporte. Quando não há é possível que o selo foi sobreposto à marca

sábado, 26 de dezembro de 2009

Havia camelos em Moçambique?

Quem não fez algum comentário sobre os selos de 1901 da Companhia do Nyassa com os camelos (dromedários) como motivo? "...as seis (taxas) mais elevadas (ostentam) dois camelos, o que demonstra uma ignorancia da fauna dos territórios da companhia, porque alí não há camelos" escrevia por exemplo Carlos George.



Mas será que não havia mesmo camelos em Moçambique? Certamente não como fauna autoctone e provavelmente não no Nyassa em 1901, mas em Tete em 1910 ...


do Relatório de 1910 do director dos Correios e Telegraphos do distrito de Tete

Os camelos até podiam ter tido (ou tiveram?) um papel importante no transporte dos correios se a experiencia deu bons resultados ... e iam custar somente um "litro" de sal  por semana!
Curiosamente o director propunha a compra de uma fêmea adulta e de uma cria, exactamente os que aparecem nos selos do Nyassa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MT & MTn

A partir de 1 de Julho 2006 até 31 de Dezembro do mesmo ano estiveram em circulação em Moçambique duas moedas: o "Metical" (MT ou MZM) e o "Metical da Nova Família" (MTn ou MZN), sendo 1 MTn equivalente a 1.000 MT.

Durante este período, e mesmo alguns meses antes, era obrigatório indicar em ambas as moedas os preços de qualquer produto ou serviço, incluindo portanto também os selos.

O primeiro selo emitido com a taxa expressa nas duas moedas foi o selo comemorativo do 25º Aniversário das Telecomunicações de Moçambique.


25º Aniversário da TDM
Data de emissão: 10 de Junho 2006
Taxa: 8.000 MT-8,00 MTn

Em Agosto o mesmo selo foi posto à venda nos correios mas com a sobretaxa de 33.000 MT/33,00 MTn.


25º Aniversário da TDM
Data de emissão: Agosto 2006
Sobretaxa 33.000 MT-33,00 MTn sobre 8.000 MT-8,00 MTn

No mês de Setembro e Outubro foram postos a circular mais dois selos com sobretaxa.


Mineráis: bauxite (emissão de 2004)
Data de emissão: Setembro 2006
Sobretaxa 33.000 MT-33,00 MTn sobre 5.000 MT


Aves: Larosterna inca (emissão de 2003)
Data de emissão: Outubro 2006 (?)
Sobretaxa 33.000 MT-33,00 MTn sobre 10.000 MT

Em Outubro 2006 é emitida uma série de 3 selos com a taxa expressa unicamente em MTn, em contradição com o disposto no Art. 1, alinha 4, do Decreto 55/2005 sobre a obrigatoriedade da dupla indicação dos preços.


Iniciativa Presidencial de Combate ao HIV/SIDA
Data de emissão: 9 de Outubro 2006
Taxas: 8,00 MTn, 16,00 MTn e 33,00 MTn

A partir de 1 de Janeiro de 2007 é retirada da circulação a anterior moeda e o Metical da Nova Família passa a ser designada apenas por Metical (MT).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os selos de correio aéreo da Companhia de Moçambique

Os catálogos costumam colocar no capítulo dos selos de Correio Aéreo as duas séries emitidas em 1935 pela Companhia de Moçambique.

A primeira série, composta por 10 selos de forma triangular, circulou de 1 de Outubro 1935 até 31 do mesmo mês.



A segunda, composta por 15 selos de forma rectangular e com o mesmo motivo (um avião sobrevoando a cidade de Beira), foi emitida no dia 1 de Novembro de 1935 e esteve em circulação até a extinção da Companhia.



Apesar do motivo dos selos, a primeira emissão não deveria ser considerada como de correio aéreo (uso exclusivo em correspondência enviada por via aérea) mas apenas como comemorativa da inauguração do correio aéreo, assim como especificado nos próprios selos e na Ordem do Governo do Território da Companhia que determina a entrada em circulação dos mesmos.

Bem diferente é a descrição da segunda série que consta na Ordem de entrada em circulação: "Tendo sido autorizada a emissão de uma série de selos especiais para franquia da correspondência avião ...". A especificidade destes selos reflecte-se na legenda «CORREIO AÉREO» ausente nos selos da primeira emissão.

Apesar de os primeiros selos serem adaptos para franquear também correspondência circulada por via terrestre ou maritima, não devem ser muitas as peças conhecidas que viajaram por estas vias. É razoável porém pensar que, devido à novidade e ao motivo dos selos, estes foram utilizados quase unicamente para correspondência expedida por via aérea.

A carta mostrada a seguir não é uma demonstração segura de circulação por via superfície, pois não apresenta qualquer marca de transito ou de chegada e é claramente filatélica (mas quantas serão as cartas franqueadas com os selos triangulares que não são filatélicas?), mas a franquia de 3$75 (a inteira série de 10 selos + um selo de 20 c.) corresponde correctamente ao porte, em vigor na altura, de uma carta registada até 20 gr. com destino ao estrangeiro.


Carta registada de Beira (16 OUT 35) para Liverpool (sem marca de chegada) com franquia de 3$75

É curioso ver como uma inteira série de 10 selos não era suficiente para cobrir o custo de uma simples carta registada.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma carta filatelica de 1929

O cunho filatélico da carta é evidente mas é possível que o remetente quis colar no sobrescrito todos os selos que estavam disponíveis nos correios (a menos que não os tinha em casa) e que tinham ainda validade, o que é sempre uma informação útil no âmbito da história postal.


Carta remetida de Beira (12 MAI 29) para Suiça (4 JUN 29) franqueada com 16 selos diferentes perfazendo 1$99,75