quinta-feira, 24 de junho de 2010

Miranda/Macaloge e Olivença/Lupilichi/Matchedje (Niassa)

Pequeno contributo ao artigo "República de Moçambique - As alterações toponímicas e os carimbos dos correios - XXI - Diversas mudanças toponímicas e muitas dúvidas" de Jorge Luís Fernandes.

O Decreto-Lei n. 10/76 de 13/3/1976 determinou a mudança de numerosos topónimos usado no período colonial, entre os quais os das localidades de MIRANDA (assim denominada nos meados dos anos '60) que passou a denominar-se MACALOGE (seu antigo nome), e OLIVENÇA que passou a ser chamada LUPILICHI, ambas localizadas na actual Província do Niassa.

A confirmar que a mudança de nome da ETP de Miranda, além da etiqueta de registo da carta que ilustra o artigo de Jorge Luís Fernandes, posso mostrar uma marca postal de Macaloge datada Fevereiro 1984.


Macaloge, sede do homónimo Posto Administrativo (ca. 6.700 habitantes em 2005), situa-se no Distrito de Sanga, a NW da Provincia de Niassa.

 Mapa da Província de Niassa com assinaladas Macaloge (vermelho) e Matchedje (verde)

Confrontando este mapa com o publicado juntamente ao artigo de J.L.Fernandes, nota-se como a posição geográfica de MATCHEDJE corresponda com boa aproximação à de Olivença. É bem provável portanto que Olivença tenha na realidade, e apesar do Decreto-Lei, assumido este novo topónimo e não Lupilichi. É também possível que Lupilichi seja uma deformação de Lipuche, cuja localização (mesma latitude mas próxima ao lago Niassa) pode ter dado origem ao equivoco.

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Jorge Luís Fernandes, "República de Moçambique - As alterações toponímicas e os carimbos dos correios - XXI - Diversas mudanças toponímicas e muitas dúvidas" (A Filatelia Portuguesa, n. 106, Maio 2002)

Ministério da Administração Estatal, "Perfil do Distrito de Sanga, Província de Niassa" (2005)

sábado, 19 de junho de 2010

"Ponto maior" nos selos de "Assistência pública" de 1929/40

Citada no catálogo Simões Ferreira, a variedade "Ponto maior" encontra-se na posição 45 da folha de 50 selos.

40 c. ultramar e castanho vermelho

40 c. carmim e violeta

Detalhe da variedade

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobrecarga "REPUBLICA" local falsa ou clandestina?

Em 1917 foi impressa localmente a sobrecarga "REPUBLICA" sobre 12 selos tipo "Mouchon" do distrito de Moçambique, restos das emissões de 1898/01 e 1903. O selo da taxa de 10 réis verde/verde amarelo não está catalogado como tendo sido sobrecarregado.


A incongruência é ainda maior observando o ano do carimbo: 1914, 3 anos antes da emissão oficial! A sobrecarga é portanto certamente falsa ... ou será clandestina?

O confronto com a sobrecarga, que acho genuína, de um outro selo  não mostra diferenças substanciais, tirando as que geralmente podem acontecer numa impressão tipográfica.


Determinar se a sobrecarga está por baixo ou por cima do carimbo é muito difícil mas, se tivesse que escolher entra as duas opções, diria que o carimbo está por cima da sobrecarga porque, observando o selo sob luz rasante, o brilho da tinta vermelha parece interromper-se nos poucos pontos onde carimbo e sobrecarga se sobrepõem. Se for assim é provável que a data do carimbo corresponda à data de aposição (não teria muito sentido, em anos diferentes, recuar o datador) o que leva a crer que a impressão possa ser de facto de 1914, ano de emissão, segundo os catálogos Simões e Ferreira e Afinsa, dos primeiros selos com este tipo de sobrecarga dos distritos de Inhambane, Lourenço Marques e Zambézia. É nesta ocasião que provavelmente alguém pensou bem de "emitir" por própria conta pelo menos uma folha (a impressão em exemplares soltos ou múltiplos é complicada e a taxa - 10 réis - era suficientemente baixa para utilizar uma inteira folha de 28 selos) obliterando-a logo a seguir, pois é muito provável que o carimbo seja de favor e que não se trate de um selo regularmente circulado.
O carimbo - infelizmente desconhece-se a localidade - é do subtipo M5.3 segundo a classificação de Altino Silva Pinto em "Marcofilia de Moçambique - 1875/1975". Na mesma obra Altino Pinto publica a lista das estações que usaram este carimbo. É possível que a lista não seja completa, mas é bastante indicativo que as estações representadas pertencem exclusivamente aos distritos de Lourenço Marques, Gaza, Inhambane e Tete. Não há nenhuma estação do distrito de Moçambique onde eventualmente o selo podia ter circulado (é sempre possível que se trate de um carimbo de trânsito ou de chegada mas seria acrescentar mais um pormenor sem prova aos muitos que já há), uma vez que somente em 1915 (Portaria 51 de 21/1/1915) foi autorizada a circulação em toda a colónia de qualquer selo, indistintamente da sua legenda. Este pormenor reforça a ideia que o carimbo seja de favor e que consequentemente a sobrecarga tenha sido impressa sem autorização com a chapa de impressão original.