Grande devia ser a preocupação de António Teixeira de Sousa se, pouco mais de 3 meses depois ter iniciado (25/6/1900) a exercer o cargo de Ministro e Secretário d'Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, decidiu apresentar ao Rei, em 8/10/1900, um projecto de decreto que permitisse um maior controlo sobre as receitas de venda de selos nas Províncias Ultramarinas.
O Ministro, no texto que acompanha a proposta de decreto, que será aprovado no mesmo dia e publicado no Diário do Governo n. 229 de 10 de Outubro1900, não raras vezes se referiu, como uma das cáusas dos desmandos que observou na gestão dos estoques de selos e sobretudo na impressão feita localmente de sobretaxas e sobrecargas, aos philatellistas, propondo também umas breves analises do mercado filatélico.
Sabemos assim que o valor dos selos aumentava se fossem obliterados, operação por vezes ilícita porque os selos nem serviram para franquia de correspondência. É curioso ver como, passados cerca de cem anos, em Moçambique voltou a aparecer o fenómeno dos selos que não servem para franquia.
A prática abusiva (mais uma vez lembra o Moçambique actual com a "emissão" de centenas de "selos" por ano) de sobretaxar os selos existentes com o pretexto de escassez de determinadas taxas, deve ter beneficiado principalmente os empregados dos correios, acusados pelos comerciantes filatélicos de serem os seus principais concorrentes.
António Teixeira de Sousa descreve também os gostos dos philatellistas: para estes nada é insignificante para valorizar os selos! Incluindo o filigramma!
Assim um facto "insignificante" como a impressão de uma sobrecarga com caracteres pequenos (os famosos "Guiné pequeno") levou a que estes selos fossem avidamente procurados pelos coleccionadores e enormemente cotados se confrontados com os selos normais.
O mesmo aconteceu com selos de Moçambique.Depois da analise do mercado filatélico, o Ministro volta a acusar os empregados do correios e os seus negócios ilícitos.
Voltando a reafirmar a concorrência ilegal perpetrada em prejuízo do Estado e dos comerciante e apresentando um último exemplo de abuso, mais uma vez verificado em Moçambique: os selos com sobrecarga do Centenário Antonino.
2 comentários:
Giorgio,
Posso então concluir que os selos nestas condições de Lourenço Marques e Inhambane são "cromos"?
Olá Fernando,
vendo as coisas com os olhos de hoje, diria que sim, mesmo que haja uns selos ou cartas regularmente circuladas. Com os olhos de ontem, não sei. Até ser regulamentada, a sobrecarga dos selos podia ser ordenada pelo Governador da Província e talvez o fizessem por efectiva necessidade ou por querer comemorar um evento. O problema é que os philatellistas apanhavam tudo e restava pouco para a correspondência normal. Encontrei mesmo nos anos a seguir outras referências aos prejuízos (falta de selos) causados pelos filatelistas.
Enviar um comentário